sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Conto de Natal



Guirlandas dependuradas, adornos de porta, sorrisos de fim-de-ano. Fora isso, tudo normal.
Ceia, peru, papai-noel, tudo como habitava a cabeça da nossa infância.

Já aos sete anos não acreditava mais na data, na bíblia e nos reis magos, mas esperava com singela angústia alguns presentes, quitutes, e...
Presentes e quitutes já estavam de bom tamanho (praquelas crianças que tiveram arrepios e chegaram a ter pesadelos com medo do espírito de natal, puxador de pernas na calada na noite!)

Algum parente fazia a figura do bom velhinho, e depois de alguém puxar sua barba postiça, algum pequeno ainda se espantava:

- Vó!!!

Tolas crianças.

Agora os adultos cabeludos colocam pra gelar suas grandes garrafas de cerveja, distribuem presentes pras afilhadas (ou, dez reais - te vira), mas se olharem pras estrelas verão que nada mudou - mesmo que alguém, por travessura, as tenha embaralhado na sombra do céu - nada, nada mudou.

O sol segue nos queimando - As mulheres seguem desconfiando - O pecado continua murmurando - Prisioneiros almejando liberdade alguma - Tartarugas morrendo de solidão

E os acadêmicos lendo seus livros de história!

- Feliz Natal!
- Feliz Natal!
- Feliz Natal!
- Feliz Natal!




(observava tudo isso de baixo da mesa, donde via esses grandes exemplares de crianças tolas, suas barbas e rugas, enquanto a lua da meia-noite não manchava com seu traço a pequena sineta de plástico na terrível guirlanda dependurada.)

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