terça-feira, 2 de setembro de 2008

Eu, grávido

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Comecei a sentir as contrações dia vinte e nove de dezembro. Doía tudo, eu rolava na cama, da cama pro chão, do chão para o banheiro, ia eu rolando e tendo acessos. Vomitei um monte de milho verde. É nojento mas faz parte da descrição, pô. Eu mal conseguia respirar, estava preocupado gritando “não, não posso morrer antes de conhecer o ano novo”, como se fosse grandes merdas conhecer o ano novo. Mas, enfim, estava pra nascer um filho e a dor era horrível. O meu cônjuge não-gay® estava mais nervoso que eu, andando pra lá e pra cá, “vamos pro hospital”, dizia, mas eu retrucava “odeio hospital”. Acabou que as contrações estavam ficando mais fortes, me doía muito o testículo direito, e eu sentia que a criança estava mal-ajeitada no meu ventre, mais pro lado direito, meio desajeitado, como o pai. Pedro seria o nome dele, escolhido às pressas no táxi, onde só não vomitei porque o estofamento era novinho e marronzinho.


Chegamos eu e o meu cônjuge não-gay® na emergência. Ele chegou, nervoso, e disparou “Não temos Unimed”. Normalmente quem não ten Unimed é enviado a uma parteira do SUS que atende numa reserva indígena próxima (uns trezentos quilômetros). Mas graças à lábia do meu cônjuge não-gay® fui atendido ali mesmo. Ainda não era o momento de o Pedro nascer. O enfermeiro disse que não era muito comum homens grávidos naquela época do ano, e que eu era recém o terceiro caso naquele mês. Disse também que era comum desenvolver os nenéns na região do alto ventre, ou até na área da barriga de cerveja mas que o meu caso era mais raro. “Você está com o Pedro no rim”.


Passei o Reveillon paparicado pelos parentes, alguns comprando fraldas, sapatinhos, meinhas de lã para o neném. Tudo amarelo, afinal, não sabíamos ainda se o Pedro ia nascer menino ou menina. Tive desejos estranhos na primeira quinzena de janeiro. Eu TINHA que comer avelãs. E lá foi o meu cônjuge não-gay® comprar avelãs. Aí eu quis avelãs com iogurte de pêssego. E lá foi o meu cônjuge não-gay® comprar o iogurte. Aí eu quis as avelãs misturadas no feijão. E lá foi o meu cônjuge não-gay® misturar as avelãs no feijão. “Agora mistura no sorvete”, disse eu. Ad Infinitum. Dia quinze fui eu pro tal do seu obstetrício que massageou o meu rim e disse, preocupado. “Não estou conseguindo mais encontrar o Pedro no teu rim”. Antes que o meu mundo caísse fui fazer a tal da ecografia. Nem a minha preocupação tirou a mágica do momento. Conselho à vocês: Façam ecografia uma vez na vida, pelo menos. É lindo. A mocinha manda baixar as calças até meio mastro, p passa um gel na barriga e começa a passar aquela máquina. E nada do Pedrinho. Passou aqui, ali. E nada do Pedrinho! “Vai ver ele migrou pro esquerdo”. E NADA DO PEDRINHO! NADA! Ela me olhou com uma cara de pêsame e disparou. “Tu deve ter eliminado o Pedro pela urina”.


Fui comer um xis pensando na insignificância da vida humana.

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